19.2.08

Quebrando modelos

Comemoramos hoje (19 de fevereiro), os 535 anos do nascimento de Nicolau Copérnico.

Copérnico apresentou a teoria do heliocentrismo no livro "De revolutionibus orbium coelestium ("Da revolução de esferas celestes"), em 1543, ano de sua morte. A teoria já vinha sendo, porém, estudada e divulgada desde, pelo menos, 1514.

Em sua teoria, os planetas se moviam em círculos ao redor do sol. Ele ainda explicou as estações do ano, e os solstícios e equinócios, argumentando que o eixo de rotação da Terra não era paralelo ao seu plano de rotação.

Sua obra ainda influenciou a de outros cientistas, como Galileu Galilei e Johannes Kepler.

Mais do que uma obra científica (com todas as dificuldades inerentes), Copérnico viabilizou uma ruptura na filosofia da época, que era a de que a Igreja centralizava o conhecimento, e que tudo estava vinculado a ela.

Nem sempre tais rupturas encontram resistências. Como podemos ver na wikipedia:
Ao contrário do que se poderia imaginar, durante a vida de Copérnico não se encontram críticas sistemáticas ao modelo heliocêntrico por parte do clero católico. De fato, membros importantes da cúpula da Igreja ficaram positivamente impressionados pela nova proposta e insistiram para que essas idéias fossem mais desenvolvidas. Contudo a defesa, quase um século depois, por Galileu Galilei, da teoria heliocêntrica vai deparar-se com grandes resistências no seio da mesma Igreja Católica.
Na verdade, a ruptura não aconteceu aí, como pode ser deduzido pelo apoio da Igreja vigente.

A bomba explodiu, sim, na mão do Galileu.

Mais do que uma convicção científica ou uma interferência religiosa, vemos que a Política foi quem barrou a sua caminhada, pois, se qualquer preceito supostamente religioso fosse questionado, um precedente estaria criado, abrindo margem para questionamentos verdadeiramente religiosos (ou, mais corretamente, políticos). Para nós é absurdo, mas deve-se reforçar sempre que esta separação simplesmente não existia (ao menos para o cidadão comum).

Analogamente, podemos notar que no fim da idade média, a separação do Estado (i.e., governo) e da Religião alavancou o desenvolvimento da política (depois do da idade antiga, claro).

Fazendo um ingênuo exercício de futurologia, podemos vislumbrar uma possível cisão entre coisas supostamente indissociáveis. Por exemplo: Ética e Religião.

O estudo das células-tronco e a questão do aborto sempre foram pontos nevrálgicos entre cientistas e religiosos. Inclusive, em algumas questões, procuram resumir tudo na dualidade "pró-vida X pró-escolha". Minha contextualização cultural não vai longe o suficiente para discorrer sobre cada uma, mas talvez o maior erro disso seja fazer qualquer questionamento recair nessa dualidade, provocando uma terrível miopia filosófica e forçando um embotamento de pensamentos. Para esta celeuma, alguns se valem de palavras fortemente carregadas de emoção, como "assassino" e "crime", atrapalhando ainda mais qualquer desenvolvimento de pensamento.

Não que eu seja a favor ou contra o aborto. Só acho que a gente não tá enxergando alguma coisa. Por exemplo: como esses questionamentos se relacionam com a reencarnação?

Outra divagação: Na Romênia, até a metade do século passado, o aborto era o principal meio meio de controle de natalidade. (Para mais detalhes sociais dessa questão, vejam o livro "Freakonomics", ed. Campus, capítulo 4). Em 1966, o ditador Nicolae Ceausescu declarou que o feto era propriedade do Estado, tornando o aborto uma atividade ilegal.

É certo, para nós, considerar que o feto seja propriedade do Estado? E mais: Como o mundo dos desencarnados vê o aborto numa região onde ele é (era) normal?

Mais uma questão: Recentemente, cientistas conseguiram criar células-tronco em laboratório, sem que o óvulo fosse fecundado. Por outro lado, esta célula reage como se tivesse sido fecundada. Então, se a célula-ovo não foi fecundada, temos vida? Ou, retornando ao lugar-comum: quando inicia-se a vida?

Podemos iniciar uma discussão sobre o que é a vida? Os príons são vida?

Copérnico não foi o único a quebrar modelos de comportamento. É só uma pena que ele não tenha tido tempo de presenciar os desdobramentos filosóficos com os quais ele contribuiu.

Bom, tá tarde e a minha profissão não é a de filósofo. Outra hora, vou encher a cabeça de vocês com mais divagações sobre a vida.

Parabéns pro Nicolau Copérnico.

2 comentários:

Kochan disse...

Parabéns pro Nicolau, haha!
Cara que post mais abrangente! Falou de aborto, religião, planetas... to até tonto. A igreja parece que sempre está querendo frear alguma coisa, mas prefiro não me manifestar mais do que isso porque eles também são radicais. =P~

Moriah disse...

Parabéns atrasados para o Nicolau!
É, difícil associar a "ética social" com a "ética da religião", né? :)